
A máxima de S. Augustinho “a memória é o presente do passado, a esperança é o presente do futuro e a visão é o presente do presente” pode -logicamente- ser associada a uma continuação do pensamento exposto da máxima aristotélica “só existem três tempos: o presente do passado, o presente do futuro e o presente do presente”. Nesses termos, podemos deduzir que a lógica que coordena tal pensamento reputa ao tempo presente o poder de organização dos outros tempos (passado e futuro), outorgando, portanto, ao indivíduo o peso incomensurável da responsabilidade por sua existência. Tal lógica é a força motriz que organiza todo pensamento do sacerdote, a saber: o pensamento que quer incutir no indivíduo (via moral) a responsabilidade por sua própria punição. Desta forma, a grande “dádiva” do “tempo presente” que se esconde por traz da interpretação aristotélica-augustiniana é a culpa. Todo indivíduo que pretende colaborar na tarefa de criação de um tempo verdadeiramente livre deve primeiro, como um verme, escavar o entulho putrefato de séculos de alienação pela psicologia do sacerdote em busca de luz e ar puro. Vencida essa barreira de lama, fezes e poeira é preciso um bom banho desinfetante para livrar-se do odor e da sujeira que um longo período sob os escombros de palavras como “culpa”, “punição”, “dádiva”, etc., impregnaram em sua pele. Só então, com nariz, olhos, boca e ouvidos “limpos” poderá ver e sentir novamente a verdadeira generosidade da existência e a abundância luminosa da irresponsabilidade e esquecimento imoralistas.
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